Pensamentos, experiências, desabafos...

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18/05/2008

O Prazer de andar de Mota

Será que existe algum prazer em andar num veículo que nos congela quando faz frio e nos expõe ao sol quando aperta o calor? E que não se equilibra nas duas únicas rodas que tem, quando parado? Mas que acaba por se aguentar em pé em movimento, por razões que parecem vir apenas de uma sucessão de acasos improváveis? E que oferece um coeficiente absolutamente negativo de segurança passiva e de protecção contra impactos? Que não tem cinto de segurança? Que obriga ao uso de capacete quando se circula, e de cabelo oleoso depois? Sobre cuja aderência ao piso quando este está molhado é melhor nem falar? Sobre cuja aderência ao piso quando este tem óleo é melhor nem pensar? Que está sempre crivado dos mais diversos insectos, que nos batem na cara se a viseira estiver aberta? Que tem sempre pequenos problemas? E que quando não tem é porque tem grandes? Que obriga sempre a usar camadas de roupa que se tornam insuportavelmente quentes logo que se desmonta? Que, ao contrário do que se julga, não atrai as mulheres, salvo nalguns dias de Verão muito especiais? E que elas acabam sempre por queimar as pernas no escape? E que custa, ao quilo, cerca de quatro vezes mais do que um automóvel pequeno, e não dura nem metade?
Existe um grande prazer em andar de Moto.
A superioridade da Moto explica-se porque viajar de carro é como ver um filme, em que o ecrã é o pára-brisas. O carro protege do exterior, enquanto que a Moto o releva porque faz parte dele. São os cheiros, as mudanças de temperatura e de humidade, o ar do mar e o calor do alcatrão, o pó dos caminhos de terra. Sentem-se a velocidade e a estrada, os buracos, as ondulações e a textura do pavimento. Até andar de Moto à chuva é um prazer. Ninguém acredita, mas é verdade, desde que a água não entre para dentro do motociclista, o que é possível com o uso de equipamento adequado. Um carro é uma caixa com rodas que contém e transporta pessoas, mas uma Moto é um prolongamento do corpo. Um motociclista é como um caminhante que vê e sente tudo com muito mais intensidade.
Andar de Moto faz-nos sentir gazelas sempre atentas aos predadores, que tanto pode ser o óleo no chão, como o carro que abre a porta repentinamente, o camião fora de mão, o sempre inevitável buraco, a pedra de que nos desviamos e que insiste em correr para a nossa frente. São mil perigos que nunca se sabe de onde virão, é a instabilidade, é a incerteza de chegar e o prazer de ter chegado. É o perigo, a velocidade, a adrenalina. É o gozo de dar prioridade aos pobres dos enlatados. A Moto é o amigo que faz sempre companhia e nunca nos troca, que obedece cegamente aos nossos comandos - acelerar, travar, curvar. E é também e sobretudo o descanso mental. A concentração na condução que faz esquecer tudo - a família, os amigos, a namorada, os problemas da vida. E o descanso depois do cansaço da condução e da concentração. O relaxe total e revigorante do fim da viagem, a plenitude das sensações que se quer repetir sempre e mais.
Gostar de andar de Moto é o supremo prazer que só quem já andou de Moto sentiu.
by Angelo Lopes da Silva ; http//www.angelolopes.com
E eu subscrevo totalmente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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